Popularmente conhecida como “cracolândia”, esta área da região central é vista por muitos na sociedade como um problema sem solução. Esta semana o prefeito Gilberto Kassab (DEM) determinou que os mais de 400 usuários e moradores de rua da região fossem transferidos para Orfanatos. Não havendo vagas suficientes, os usuários voltaram às ruas. Cerca de 70 policiais fazem plantão nas ruas do centro a fim de impedir o retorno dos usuários de drogas.
Para os missionários que fazem parte do Projeto Toque, coordenado por Caetano Pinilha, 28 anos, a recuperação das pessoas e um trabalho desenvolvido nas periferias é a solução. “Temos como meta dar uma nova oportunidade aos excluídos, resgatando valores, atitudes e caráter. O processo não é fácil, mas quem oferece respeito e dignidade, recebe de volta”, disse Caetano.
Os problemas que são freqüentes no centro da cidade são causados por algum problema na família e também pela falta de estrutura nas periferias, onde muitas crianças ao serem espancadas pelos pais acabam caindo na marginalidade e com medo de voltar pra casa, se refugiam no centro. Se não houver um trabalho digno a todos que passam por esta situação, se os tirarem do centro estarão amanhã na Av. Paulista ou qualquer outro local, disse Caetano.
O garoto M.S.S. de 15 anos, quando perguntado o porquê prefere ficar na rua que em casa? Respondeu: “A rua é mais segura e limpa do que minha casa, eu moro num barraco em cima de um córrego e ainda por cima meu padrasto me bate”.
Outro problema que é responsável por boa parte dos excluídos é a prostituição, muitos homens e mulheres vêem na profissão do sexo uma saída fácil para resolver os problemas financeiros ou realizar um sonho, o problema é que o sonho nunca é único e acaba virando uma profissão por toda vida, onde na maioria das vezes os familiares não sabem. O pior é quando um dependente químico sem ter opção do que mais comercializar vira refém do sexo fácil para garantir o sustento dos entorpecentes. “Com o passar do tempo, as crianças de ontem, hoje viraram adultas e o difícil não é tirar a criança da rua e sim a rua de dentro da criança”, disse Caetano.
Foi o que aconteceu com Gustavo Silva (fictício), 25 anos, chegou a São Paulo e ficou encantado com a noite paulistana, nas baladas foi apresentado a várias drogas e logo virou um dependente, seu grau de dependência foi tão alto que em troca de dinheiro ou até mesmo das próprias drogas, chegou a aceitar propostas para se travesti. Gustavo Silva, um rapaz de família renomada, trabalhava, fazia curso de inglês, e depois da dependência química, se prostituiu, viu colegas serem mortos a tiros em plena periferia paulistana apenas por não pagarem o valor da droga, cinco reais. “Cheguei a passar fome, frio, vivi jogado nas ruas durante o dia e a noite tentava ganhar algum trocado, perdi contato com minha família durante dois anos e hoje estou reintegrado à sociedade graças ao Projeto Toque, Deus foi tão bom comigo”, disse Gustavo.
“Os excluídos se fazem de forte, demonstram ser ignorantes, mas na verdade são sentimentais, muitos possuem dinheiro, porém não tem ninguém para ouvi-los ou simplesmente dizer um bom dia!”, disse Caetano Pinilha. “Certa vez chegamos para realizar uma visita na casa de um travesti e de última hora ficamos sabendo que era aniversário dele, eu e minha esposa fomos até a padaria compramos um rocambole e um refrigerante, ao cantarmos parabéns, esse cara chorou igual criança e disse que nunca haviam feito isso para ele. O valor e o respeito ao próximo vale muito mais do que qualquer bem”, complementou Caetano.
A garota B.A.B. 22 anos, usuária de drogas, disse que no inicio maltratava os missionários e que nem os olhava na cara, mas com o tempo percebeu que não era mais uma palhaçada, estes estão aqui é para nos ajudar. Uma vez perguntei ao Caetano se ele me ajudava porque eu era o trabalho dele? Ele respondeu: “no inicio você era meu trabalho e hoje você é minha amiga, nossa vida não passa em vão, Deus quer que eu faça isso e eu estou convicto”.
Quando perguntado de números aproximados sobre quantas pessoas foram resgatadas, Caetano retrucou: “nós não trabalhamos com números, as pessoas devem ser valorizadas e se elas saem hoje e depois de algum tempo voltam para o submundo, temos que ficar felizes porque a oportunidade foi dada e a vida continua nada foi em vão”.