quarta-feira, 6 de outubro de 2010

ELEIÇÕES: DIA QUE ELEITORES SÃO AS ESTRELAS PRINCIPAIS DA FESTA

No dia das eleições, passei por sessões eleitorais da capital paulista e captei flagrantes de pessoas que ao votar revelavam no próprio nome sua história. São histórias tão reais e engraçadas que parecem obra de ficção, que anunciam um pouco de cada pessoa.

   O barulho e a sujeira das eleições deram uma trégua. Pelo menos até o início da campanha eleitoral do segundo turno entre os candidatos Serra e Dilma. O vampiro e a bruxa celebrarão o “halloween”, comemorado no dia 31 de outubro.
   No primeiro turno, tivemos mais do que figuras esquisitas disputando o pleito, como palhaços, uma feira de mulheres fruta, ex-jogadores, ex-mulher de cantor famoso, ex-presidiário e meretrizes que prometiam lutar para regulamentar a profissão, que é considerada a mais antiga do mundo, que remonta os tempos bíblicos.
   Mas o mais engraçado é acompanhar a votação de perto. Para isso, visitei algumas sessões eleitorais. Interessante é que para alguns voluntários, que trabalham nas eleições o divertido é acompanhar o caderno com a relação dos eleitores.
   Assim, um dos primeiros nomes que me chamou a atenção foi o da Infância das Dores. Tive curiosidade em ver a pessoa, será que existia mesmo? Para minha sorte, ela logo chegou e com o olhar dos voluntários, pude saber quem era aquela mulher que adentrava a sala, de estatura baixa como uma criança.
   Após ter votado, Infância das Dores, chegou à mesa e perguntou se alguém teria um remédio para dor de cabeça. Logo pensei, essa é predestinada. Ao nascer sua mãe olhou nos olhos e disse: minha filha você é tão pequena, nasceu de sete meses e vive chorando. Você vai se chamar Infância das Dores. A infância apesar de apresentar mais de 50 anos, dava um bom caldo.
    Uma linda mulher apareceu por lá, tratava-se de Izabel Musa de Gaze, que ao votar resmungou: “ainda terei que dar plantão no hospital”. Outra predestinada: Minha filha, você é linda, mas não vai ser modelo. Quando você crescer vai trabalhar num hospital, portanto, vai se chamar Izabel Musa de Gaze.
    O maior e mais poderoso de todos também compareceu para votar, Josenildo Pinto de Jesus foi lá dar uma apertada na urna.
    Uma cidadã, nascida na cidade de Irecê, na Bahia, marcou presença na festa democrática. Adivinha o nome da baiana? A mãe ao nascer deve ter ficado desgostosa porque o pai foi embora procurar emprego em São Paulo e disse: “Minha filha, nem sei que nome lhe darei, seu pai me deixou tão desamparada. Já sei, você vai se chamar Irecê Baiana do Nascimento.” No RG desta mulher nem precisa constar o campo naturalidade, pois já está no nome.
     Na relação dos eleitores, observavam-se muitos nomes extensos, com mais de oito sobrenomes, em sua maioria, estrangeiros. Imaginei logo, devem ser os imigrantes e, ao olhar a data de nascimento, pensei nos descendentes de “Pedrinho e Isa”, Dom Pedro I e princesa Isabel. Surgiu a curiosidade de procurar o mais idoso. Lá estava Jemeu de Costa Petrosevick Sevicius,nascido em 1909, foi confirmado que ele compareceu para votar na última eleição.
    A fila de votação estava cheia, havia um casal que conversava sobre a divisão dos afazeres domésticos: O homem questionou: “Amor, quem vai fazer o almoço”? Ela logo respondeu em alto som: “Eu é que não vou”. Todos olharam para o casal. Ele tratou de beijá-la carinhosamente e disse: “’Tá bom amorzinho, eu faço papá pra você”. Quando ela entrou para votar, o marido disse: “Amor, vou dar uma pinta na escola e já volto”. Que casal mais diferente!
    A eleição oferece uma oportunidade de reencontro entre amigos e muitas vezes, familiar. Um cidadão de sobrenome Grosdisky estava votando e o próximo que chegou para votar tinha o mesmo sobrenome. Eram primos que não se viam há algum tempo e que ao votarem, saíram trocando informações de como estavam os parentes.
    Esse reencontro só é comparado ao velório. Aí os familiares e amigos sempre arrumam um tempo para visitar. Talvez seja porque é a última vez. E por falar em última vez, para a tristeza de todos que esperavam ansiosamente o Senhor Jemeu de Costa Petrosevick Sevicius, ele não compareceu. No final da ficha de eleitores, seu título estava com o status cancelado. Talvez se cansou de “jemer” aqui na terra e tenha ido votar numa urna virtual.

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